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MEMÓRIAS DE UM ESPAÇO AFETIVO

Memórias de um espaço afetivo foi uma ação urbana realizada coletivamente com os alunos da oficina que ministrei para o meu Trabalho de Conclusão de Curso: O espaço urbano como espaço de vivência: a oficina de ação urbana como uma proposta poética.
Durante a oficina, eu procurei proporcionar um encontro entre os meus processos poéticos e os processos educativos, de modo que meu papel enquanto orientadora se incorporasse ao meu trabalho de performer. Como proposta final da oficina, foi feita a presente ação urbana realizada em frente ao cemitério de Mandirituba (Paraná),durante o dia de finados.
Um cenário foi criado com toalhas que recobriam o chão,garrafas térmicas contendo café e chá, algumas frutas e biscoitos, lápis de cor e papel. À vista, um aviso dizia: “Troco um cafezinho por uma memória”. Histórias surgiam por meio de relatos e desenhos. A bebida que aquecia o corpo, acalentava a alma.

 

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"A única memória que eu tenho é do Luciano", disse uma senhora, que perdera o filho no mar, enquanto andava de caiaque. A senhora de olhar profundo, que antes permanecia relutante em se abrir, desatou a contar sua história. Suas rugas, assim como seus olhos, pareciam dizer tantas coisas... "Quando os pais brigam com vocês é porque eles te amam. Escutem o que eles dizem.", disse ela. "Eu não choro. Sou dura, mas eles [comentou apontando para seus outros dois filhos], não se aguentam".

Além da mãe de Luciano, conhecemos Sirlei, que estava trabalhando no cemitério aquele dia. Seu filho, Otávio, cuidava dos carros no estacionamento onde nos encontrávamos, foi ele que fez uns dos desenhos que pode ser visto em um dos registro fotográficos.

Sirlei sentou conosco e bebeu o café que oferecemos. Ela nos contou que veio do Nordeste, tem família por lá e por todo o resto do Brasil. Visitou a Bahia para saber mais sobre a sua origem, acredita ser importante entender de onde viemos, só assim descobrimos quem somos. Sirlei diz ser um milagre de Deus. Quase morreu ao nascer, sua mãe tinha pressão alta, por isso teve que nascer aos seis meses de idade, não sabe como sobreviveu. Sua mãe foi uma das primeiras mulheres militantes do Partido dos Trabalhadores. Cresceu com senso de justiça. Indignada ao ver um rapaz morando na rua em frente a sua casa, brigou com toda a vizinhança para lutar pelos direitos de moradia e saúde do mesmo. Hoje, o moço se encontra no hospital, graças à Sirlei, que diz que todo ser humano tem o seu dever: lutar uns pelos outros - diferentemente do que se tem feito: uns contra os outros.

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