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AS RUGAS POR SI SÓ JÁ SÃO HISTÓRIAS

Vestidos. Durante muito tempo foi associado ao guarda-roupa feminino. Década de 1950 é marcada pelas saias amplas e cinturas finas, vestimentas de difícil mobilidade. É também o período de juventude daquela que criou a mãe da artista e outros quatro filhos. Sua vida, eternizada nas memórias escritas na vestimenta, são agora lembranças de uma vida como menina, como mulher. Palavras foram transcritas no tecido à máquina de escrever, um presente do avô. Tecido. Analogia ao tecido epitelial. Órgão do corpo repleto de histórias. As rugas por si só já são histórias. Caminhos feitos em arame perfuram o tecido. Trajetórias de uma vida dura. São cicatrizes.

Cartas trocadas pelos avós há mais de 50 anos são retiradas do fundo do armário e trazidas de volta à vida, seja por meio de cópias impressas ou por trechos transcritos na vestimenta à máquina de escrever. Impressas em papel vegetal, as cópias, com sua transparência, revelam algo além da escrita: a volatilidade da memória.

Ela possui a mesma idade indefinida

em que o futuro a visita

e a tem resgatado,

no exílio da maternidade...

...apesar das convenções desmanteladas,

ao embalo das velhas cirandas,

apesar das conveniências desvalidas,

ao alento das aspirações antigas...

 

Porque se foi mulher e não sabia

e lhe roubara o tempo e a quiseram mítica

e ainda lhe cobram as dívidas do mundo!

Nas diversas jornadas de seu dia

precisa mais de colaboradores

do que de muitas homenagens e de flores!

A tarefa de educar não é só sua!

 

Porém, das cinzas abrasadas,

reacende a chama inicial

a qualquer momento em que se rompe a espera...

Libertem a mulher, a mãe, a geratriz!

O amor, assim, isento de ambições,

constrói, dignifica, redime e ilumina!

Mãe é mulher – mas não é mito – mãe é gente!

 

(Poema de Léa Madureira dedicado à Nadge Kozak, avó da artista)

 

 
 

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