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HABITAR EM MIM:TRANSPONDO A BARREIRA ENTRE CORPOS 

    ENTRE O "EU" E O OUTRO 

SOBRE O ARTIGO

Habitar em mim. Trata-se de um trabalho que está sendo desenvolvido para a disciplina de Projeto Avançado Espaço Tempo e Forma, ministrado pela professora Tânia Bittencourt Bloomfield, do curso de graduação em Artes Visuais, da Universidade Federal do Paraná. Habitar não se restringe ao ato de se permanecer fixo em um espaço específico, que se constitui como morada, mas é fazer-se presente em um lugar. Quando se pensa em morada, pensa-se em um local protegido, cercada talvez por paredes sólidas e muros que separam o seu morador (habitante) dos perigos externos. Muros que não só garantem a segurança, como separam o que está do lado interno do que está do lado externo, criando, assim um distanciamento entre aqueles que vivem nos lados opostos.

Este distanciamento é refletido por meio das relações humanas que tem se tornado cada vez mais frias. Erigir muros cada vez mais altos é alimentar o medo que só faz solidificar as barreiras que impedem a interação entre o “eu” e o “outro”. É um ciclo vicioso: quanto mais “eficiente” o sistema de segurança, maior o medo; quanto maior o medo, mais sólida a barreira que o indivíduo cria diante de si, e maior seu distanciamento da comunidade. Trata-se de uma vivência doentia na qual o indivíduo torna-se dependente.  

Poderíamos dizer que a insegurança moderna, em suas várias manifestações, é caracterizada pelo medo dos crimes e dos criminosos. Suspeitamos dos outros e de suas intenções, nos recusamos a confiar (ou não conseguimos fazê-lo) na constância e na regularidade da solidariedade humana. 
                     (BAUMAN, 2009, p. 16)

A proposta deste trabalho é partir do processo de sensibilização como forma de causar rachaduras, ainda que pequenas, nos invólucros que envolvem os indivíduos de uma cidade. Assim, me utilizo do toque, do contato físico, por meio do abraço como instrumento que permite gerar inquietações. Edward T. Hall, em Dimensão Oculta (1977), chama isto de proxemia, ou seja, o espaço que envolve o indivíduo e estabelece limites de aproximação com o outro, de acordo com o grau de afinidade. O abraço é lugar de habitação. O abraço é entrelaçar-se no corpo do outro que se torna moradia, mas que, diferentemente da moradia arquitetônica, possibilita uma aproximação com o outro. É uma moradia simbólica. Abraçar é habitar e oferecer habitação a um corpo.
 
Para a presente proposta, apresento, ao longo deste artigo, referenciais teóricos e imagéticos que foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, pois, como disse Sandra Rey, em Por uma abordagem metodológica em artes (2002), um processo artístico não é feito somente de procedimentos práticos, mas também de pesquisa teórica; ambos se constroem e se interferem mutuamente, direcionando o caminho que o artista irá tomar: 

A pesquisa em artes visuais implica um trânsito ininterrupto entre prática e teoria. Os conceitos extraídos dos procedimentos práticos são investigados pelo viés da teoria e novamente testados em experimentações práticas, da mesma forma que passamos, sem cessar, do exterior para o interior, e vice-versa, ao deslizarmos a superfície de uma fita de moebius [sic].
                              (REY, 2016) 

Assim, o artista também é pesquisador; busca diferentes metodologias para o desenvolvimento de seu trabalho, sendo que elas, em certos momentos, são mais subjetivas, com abordagens mais pessoais, a partir de experiências vivenciadas. Em outros, se apresentam por meio de uma abordagem mais formal e acadêmica. A pesquisa de um artista permeia esses dois mundos ao mesmo tempo, tornando-a um trabalho bastante complexo “que transpassa a produção de um volume de escrita acadêmico." (PELED, 2012, p.116).

 

Desta maneira, utilizo-me de teóricos como Zygmunt Bauman (2001; 2009), Teresa Caldeira (2000), e Richard Sennett (2014), para tratar dos problemas de segregação das grandes cidades que dificultam o estabelecimento de laços afetivos entre indivíduos. Fazer reacender estes laços, relembrar a humanidade existente, permitir um respiro e pausa para relações humanas dentro da mecanicidade da cidade, são preocupações que fazem parte do projeto das artistas Ana Teixeira, Eleonora Fabião e Tania Alice, referências artísticas para a presente proposta, que se estabelece como forma de superação da apreensão e do medo que possuo de aproximar-me do outro.

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