top of page

HABITAR EM MIM - A EXPERIÊNCIA

O projeto Habitar em mim teve início com a ida à casa de uma pessoa específica, alguém próximo a mim e com a qual estabeleço relações afetivas. Com a permissão desta pessoa, uma troca de sentimentos e sensações foi realizada; um abraço constituído por meio de outra ação: a escrita. Em minhas costas, minha amiga, Tereza Bossler - também artista - escreveu uma mensagem para uma pessoa importante para a sua vida. A ação foi concluída com um ENTRE escrito durante o ato do abraço nas costas de Tereza.

A mensagem pertenceu ao corpo, mas só por um período de tempo. Após ser absorvida e memorizada, a mensagem foi levada até o seu destinatário, uma amiga de Tereza que é minha amiga também. Até então, o contato com estranhos não havia ainda se iniciado. A ação prosseguiu, estabeleci o primeiro contato com o desconhecido, transpondo o limite imposto pelos muros que separam estranhos. Com um abraço repassei a mensagem. O lápis desenhou a mensagem em minhas costas para a próxima pessoa. A mensagem foi então absorvida pela pele, incorporada ao meu corpo. A partir daí, não sou mais conhecida, sou amiga de uma amiga que transpõe a barreira que me separa do indivíduo frente a mim. Conforme a ação segue o seu curso, torno-me mais distante dos envolvidos neste ciclo, deixo de ser conhecida e conhecida de conhecida, para tornar-me uma completa estranha, criando uma infinita corrente de laços afetivos. 

Cada novo abraço é uma nova experiência. A mensagem é enviada sem que o destinatário saiba da minha ida à sua casa. A presença de meu corpo frente à sua morada, do lado de fora das limitações de concreto e barras de ferro que protegem o habitante dos infortúnios exteriores, provoca sensações de desconfiança. Sem um convite, tento cruzar a linha que nos separa.

Em minha primeira experiência com uma pessoa desconhecida, tive dúvidas quanto à recepção do abraço, em como a pessoa reagiria diante de minha presença.  Tais indagações foram se desconstruindo à medida que me aproximava de sua casa.  Ao chegar ao portão, apresentei-me como uma mensageira. Diferentemente do que imaginava, a pessoa que me atendeu foi receptiva, entregou-se ao abraço. Um abraço forte e duradouro foi dado e mensagens foram trocadas. Ela então me convidou para entrar. Cruzei a linha que nos separava, a linha demarcada pelo portão de sua casa e a linha do invólucro que nos envolvia. A lembrança dos tempos em que passou junta de sua amiga, a que enviou-lhe o abraço, a fez se emocionar. O projeto atingiu outro patamar e criou dimensões além do esperado. Duas amigas que há tempos não se encontravam voltaram a se falar e uma onda de sentimentos me atingiu diante daquela forte ligação de amizade. Tornei-me parte de algo maior do que consigo explicar em palavras, aquela pessoa que se emocionava em minha frente não era mais uma estranha, ela tinha um nome, tornou-se alguém para mim.

bottom of page